terça-feira, 12 de junho de 2012

Batalha Encerrada, Guerra Iniciada

Olha só, faz um ano e quatro dias que não escrevo aqui. Que mau exemplo não?
Verdade seja dita, quase não escrevi muito de qualquer modo. Vou garimpar umas coisas pra postar aqui depois, mas agora vou colocar aqui um texto que escrevi há alguns dias. Começei mais um mas não acabei ainda, talvez por falta de coragem de encará-lo, uma briga que eu queria brigar faz tempo mas não conseguia. Então vou adiar a briga pra depois e postar a batalha agora.
Às vezes me pergunto se alguém lê isso tudo, e se faz sentido de qualquer maneira...

Enfim.

-----

Regina sem súditos


Retumbam na minha porta com toras, com piche, com lanças, espadas, ódio, escárnio e determinação os homens e mulheres da guerrilha. Ressonam e insistem com baques surdos, e as cintas de ferro do portão laceiam, e a madeira se solta e vai cedendo aos socos e rufos do arrombador.  E sei que só eu espero do outro lado, aguardo o cair das lascas, o piche escorrer muros adentro, o fogo alastrar as vilas e arrastar para além meu pensamento.
Esta batalha de anos que lutei mais colocando pessoas fora dos muros do que as recturando para dentro; essa patética epópeia em que me convenci de que lutava por algo quando a cidadela não tinha população, me isolando com cercos de pedra, flores e papel que me afastava de um vil sofrimento. Há sofrimentos maiores, há guerras maiores e maiores reinos, mas era este o meu, e eram agora meus muros solitários que iam lentamente sendo transpassados.
Entrego então meu destino aos muros, jardins, armadilhas, portais, casas e castelo que construí durante décadas. O material veio sempre do estrangeiro, de fora, mas escolhi onde os colocava, o que fazia com cada semente, com cada naco de terra que me entregaram. Me abriram um rombo na terra e vi que ali podia ainda haver solo fértil. Quando algo aparecia, eu recolhia sob meus braços e transformava em algo meu.
Sei que os muros e as casas e todo o reino irá ruir em breve sob os passos tamboris deste novo tempo que irrompe em meu lar e minhas portas. E fico feliz de ver gente, mas não de vê-los agir das formas que nunca quis ver, das maneiras pelas quais acabei me isolando deste mundo vil.
                E depois que o incêncio acinzenta, depois que a soleira desfaz, depois que cada fio de veludo foi desfiado e desprezado, depois que os homens partiram com os espólios da vitória de uma batalha que mal precisaram lutar, restava eu, a armadura do corpo, e a espada, em meio à praça destruída, dada por morta, desfalecida, sem enterro, sem chamas, sem funeral, sem respeito.
                E quando parecia que ao menos o silêncio me havia sido restituído -  apesar dos telhados que ainda crepitavam – uma presença se aproximou de meus pés e uma sombra interrompeu a sentença do sol.
                E uma garota, tão apenas uma garota, como a que eu fora um dia, num vestido de linho sujo, olhou para mim com este olhar que não era lançado, mas deitado sobre mim como um véu, um lençol, como se me entregasse um manto de conforto e paz. E pos sobre meu peito metálico a rosa vermelha e espinhosa de meu sangue.
Foi-se embora a garota e eu não ousava levantar dali, que enfim aquela vida avassaladora morria, e so me levantaria dali quando meu espírito renascesse e Thaumas viesse erguer meus brancos panos.
A.G
09/06/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário