terça-feira, 28 de maio de 2013

Ad infindum

Uma vastidão vazia me cobre o cenho. Um horizonte ocupado acalma-se. Cantos, gritos e falas, tudo cessa.
Em uma una visão cada pensamento esvai-se, cada ideia corre em fuga, some como extinta.
E de repente o que era feito de partículas torna-se feito de ausências. Uma, duas, três. Sim, pelo menos três.  Uma alma feita de tufões e ciclones em um tapa silencia-se, consciente das faltas.
Uma ausência se enrola à outra.
Uma voluntária, pediu para ir-se, depois de tanto tempo ali instaurada, parecia já pertencer ao lugar. Pertencia à mente, e ao coração. Mas justo o pertencer assustou-lhe, e o que deveria ser um lar pareceu-lhe prisão, e fugiu como se de ir ou ficar dependesse sua liberdade. Ausentou-se.
Uma ao acaso, que o mundo não lhe permite ficar. Vai e vem como a ressaca das ondas, mas quando vem, é bem-vinda; mas foi ausentar-se quando justo as outras também partiram. Dependente do vento, esta maré que sobe e desce, talvez um dia quererá engarrafar-se e pertencer.
Mas a última, está aí a maior delas: porque as outras não desapareceram, mas se ausentaram. Esta, passou justamente pela última coisa que acontece com qualquer um. Esta que chegou como a águia em meio aos pombos e espantou-os, criando assim os vazios secundários. Esta que não vai embora, por mais que se tente criar presenças. Ela fica ali imponente sobre o muro, assustadora, e nada mais além dela ousa ficar. Afugenta os outros pensamentos, apavora-os; tudo é dela e pertence a ela, fazendo parecer que seu domínio será eterno. Sei que não será. Mas sua onipotência não permite à certeza que fique. Ela chegou de olhos fechados, de semblante sereno, emaciado, sob um véu de linho branco. Chegou com cada lembrança. Mas lembrar parece alimentar sua estadia. Nada resta sob esta ausência. O que se faz para a distração, não dura. Resgatar lembranças a fortalece. Qualquer ofício é claramente em vão para expulsá-la.
Resta apenas esperar que o vazio se preencha, que ela retome seu voo e vá embora. Que deixe os pensamentos voltarem a existir. Que deixe as frases serem terminadas.
Há sempre a leve esperança que as duas primeiras ausências desistam; a primeira sei que não desistirá. A segunda é imprevisível, e talvez volte e traga uma redenção epifânica... Mas qualquer seja o desfecho do vazio, para que ele se finde, é necessário aguardar.
Pois que o tempo trate de derrubar logo suas areias, para que os ecos das frases não findadas, se findem.


A.G. 20/05/2013