segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Gargoyle

She sits alone on the roof.
Above the city, below the clouds.
She sits in the line inbetween.
She has two wings.
One feathered, one leathered.

She is the inexistent space amidst dark and light
She is the dot between Above and Below
Alone she watches the universe roll
Alone she keeps
The life that shines beneath.

She is the guardian of all this
The living fools
The loathing souls
The fear's abode

And the light from the mourning stars.

"Let the fools be alive and let the light be dead
Let me keep as they live
For I am made guardian and guardian i will die
Let them dance shallow as I watch in deep.
What was once a curse is now a blessing
The only way I am able to live
Let me be for what I have been done
So they can dance below the Above."









A.G. 26/08/2013

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Cérebro.

- Me deixa em paz.
Não.
- Então pelo menos cala a boca.
(Passa os próximos 10 minutos trocando de posição sem se estabelecer)
- PÁRA QUIETO, CACETE. Inacreditável.
Posso pelo menos respirar?
- DEPENDE. VOCÊ CONSEGUE RESPIRAR SEM FAZER BARULHO?
Mais ou menos. Lembra que a gente tem sinusite, né. Aliás, você tomou o antialérgico?
- Não, não tomei, não vi necessidade nenhuma.
É, mas já está fungando, olha só. Devia ter tomado. 
- Deixa pra amanhã cedo. Agora não faz diferença.
(Bate na tela do celular. Os números brancos acendem: 02:07).
A gente ainda tem umas 6 horas de sono. 
- Faz duas horas que a gente tá nisso. Mas que saco. Por quê você não fica quieto de uma vez? Daqui a pouco vai perguntar do livro que temos que terminar no dia 22, da gasolina do carro, do depósito que não chegou ainda, da porra do corretivo que ainda não compramos. E aí vão sobrar 5, 4, 3 horas de sono, e veremos que não dormimos nada. Por quê infernos você faz isso comigo?
Ora, me desculpe se você não me deixa falar muito durante o dia, me resta esse horário para tentar arrefecer. E a culpa não é minha se você fica adiando tudo pra amanhã, e depois, e depois, mas não termina nada. Aí é minha obrigação, no mínimo, lembrar você. E só me resta esse horário pra isso.
(02:39)
- Ótimo, olha só, daqui a pouco só teremos 5 horas de sono, eu não disse...? Ah, desisto. Vamos pegar um caderno e sei lá, escrever ou desenhar, até você esvaziar as ideias um pouco e ficar quieto de uma vez. Fazer uma lista do que temos que terminar amanhã. (Acende a luz). Pode começar.
...
- Alô? Cérebro?
...
- Desgraçado.

(Apaga a luz, vira para o lado, puxa o cobertor e dorme).

A.G.
08/08/2013

Estandarte


Tropecei nos buracos da terra nua, do caminho entre os arbustos. Pequenos cortes no meu rosto ardiam. Galhos agarravam nas vestes e dilaceravam tecido e pele enquanto eu meio andava, meio corria, aos supetões.

Ou porque as pernas já não aguentavam mais correr, ou porque parecia longe o suficiente para se ter alguma segurança, parei. Não parei suavemente; caí na terra seca sem cerimônia, bati a testa num resto de tronco. Bufei, o pavor já me abandonando, e um certo alívio ajudando a me recompor. Virei no chão poeirento com certa dificuldade, a calça enroscando no mato baixo, e olhei para o trajeto que havia percorrido.

Estava no meio de um bosque de porte significativo. Ele beirava um riacho e ficava a dois ou três quilômetros da batalha. Uma coluna de fumaça distante espiava a clareira, acusadora, como se soubesse que eu estava ali. Que eu devia estar lutando. Percebi que havia corrido muito em pouquíssimo tempo. Desesperada. Uma covarde.

Olhei para baixo; o buraco escuro na minha panturrilha secava, e o sangue que antes jorrava apenas escorria lentamente, espesso. Saí correndo por causa disso?

Não, não havia saído correndo só por causa disso. Saí correndo porque tudo isso era uma loucura. Que eu havia entrado para um exército com meus próprios motivos e intenções, mas que no fim, quando as batalhas começaram, eu não era eu, não lutava por mim. Era mais um soldado, um número entre centenas e milhares, usados por um líder para lutar por ele,  não por si mesmos.

Ora, se lutássemos por nós mesmos, com certeza não seria em favor dele.

Deixei-me cegar por tanto tempo, fiz-me crer que enquanto eu estivesse progredindo, estava tudo bem. Que enquanto eu não parasse, tudo se encaixaria. Que os fins justificariam os meios.

Mas estou aqui; joguei minha armadura pedaço a pedaço pelo caminho enquanto fugia. E fugi porque já não sei mais por que estou aqui. Me deixei esquecer tudo, toda a verdade que era minha, para beber da verdade corrupta de alguém que mal conheço. Que nunca olhei nos olhos.

Acordei agora num lugar desconhecido; numa estrada que não sinto ter escolhido.

Algo espetava minha cintura. Empurrei aquilo; senti a espada na cintura, cujo cabo me cutucava, como se quisesse falar.

Puxei-a fora do estojo. Parecia limpa para o olhar de um estranho, mas via em seus detalhes, em seus encraves, marcas de sangue seco. De gente como eu. Gente que confundiu ser com seguir e morreu pelo nome de alguém.

- Mãe, faça a Maré lembrar seus nomes. Que os quatro cantos lembrem. Perdoe-me por não sabê-los eu mesma.

Segui pensando enquanto utilizava uma ponta do que antes era uma roupa de linho grosso que separava minha pele do couro e do metal  para limpar as finas linhas vermelhas da prata da espada.

Não quero meu nome apagado por uma lâmina. Não quero carregar um estandarte que não desenhei. Não quero sangrar por uma ideia na qual não creio. Não quero seguir um caminho que não escolhi.

Tentei lembrar-me. A batalha havia começado em Vereüst. Eu estava ao lado do riacho que cortava o feudo. Uns três dias a oeste, conseguiria encontrar abrigo em território neutro, num vilarejo. Lá eles não temeriam nenhum selo, nem do rei, nem do usurpador. Mas respeitariam uma boa armadura de couro e aço. Talvez conseguisse uma estadia barata com o brilho dos guerreiros.

Resolvi voltar e catar os pedaços dos quais havia me descartado. Eu ainda usava o peitoral e as ombreiras. Voltaria um quilômetro, recolhendo o que conseguisse.  Depois seguiria o pôr do sol.

Seguirei a pé até lá, e dali traçarei meu plano. Nunca sozinha: sempre com a Maré e os quatro Ventos. Mãe, irmã, se estiver comigo, me ajude com este novo norte.

Não seguirei. Não sangrarei em vão. Não carregarei o que não me pertence. 

Não me apagarão.


A.G.
08/08/2013

domingo, 4 de agosto de 2013

Tensão

Sinto a mudança da Maré nos ossos. É um novo tempo, um novo marco.
O ar parece palpável, e o vento ambíguo trouxe calor e nuvens nesta manhã. Como se quisesse que o frescor do câmbio temporal fosse palpável, o calor apenas vem das fechadas janelas; mas ao abri-las vem a brisa e a sombra da chuva que apenas aguarda sua vez de existir.

Cada passo é uma memória concreta, como se quando se passa onde já se passou, pudesse ver-se fazer o que fez há cinco minutos e há dez anos, simultaneamente.

Mas sabe-se bem que isso é sombra: e a consciência de que o ato de agora marcará-se nas linhas do tempo, faz o peito bater nervoso. Mesmo que a casa esteja vazia.

Parece a calmaria antes da tempestade. E mesmo que ela ainda não venha, é tangível.

Parece que tudo e todos esperam algo. As plantas, o cair das folhas, os animais, a troca de pelos e penas, a maré, a próxima onda. Não há medo ou hesitação. Há apenas a espera. Uma ansiedade não das consequências  do fazer, mas de descobrir quais atos serão marcados em Chronos, e quais serão irrelevantes.

Tudo aguarda como se uma última engrenagem precisasse ser encaixada, para iniciar todo um sistema.


A.G.
04/08/2013