Não.
- Então pelo menos cala a boca.
(Passa os próximos 10 minutos trocando de posição sem se estabelecer)
- PÁRA QUIETO, CACETE. Inacreditável.
Posso pelo menos respirar?
- DEPENDE. VOCÊ CONSEGUE RESPIRAR SEM FAZER BARULHO?
Mais ou menos. Lembra que a gente tem sinusite, né. Aliás, você tomou o antialérgico?
- Não, não tomei, não vi necessidade nenhuma.
É, mas já está fungando, olha só. Devia ter tomado.
- Deixa pra amanhã cedo. Agora não faz diferença.
(Bate na tela do celular. Os números brancos acendem: 02:07).
A gente ainda tem umas 6 horas de sono.
- Faz duas horas que a gente tá nisso. Mas que saco. Por quê você não fica quieto de uma vez? Daqui a pouco vai perguntar do livro que temos que terminar no dia 22, da gasolina do carro, do depósito que não chegou ainda, da porra do corretivo que ainda não compramos. E aí vão sobrar 5, 4, 3 horas de sono, e veremos que não dormimos nada. Por quê infernos você faz isso comigo?
Ora, me desculpe se você não me deixa falar muito durante o dia, me resta esse horário para tentar arrefecer. E a culpa não é minha se você fica adiando tudo pra amanhã, e depois, e depois, mas não termina nada. Aí é minha obrigação, no mínimo, lembrar você. E só me resta esse horário pra isso.
(02:39)
- Ótimo, olha só, daqui a pouco só teremos 5 horas de sono, eu não disse...? Ah, desisto. Vamos pegar um caderno e sei lá, escrever ou desenhar, até você esvaziar as ideias um pouco e ficar quieto de uma vez. Fazer uma lista do que temos que terminar amanhã. (Acende a luz). Pode começar.
...
- Alô? Cérebro?
...
- Desgraçado.
(Apaga a luz, vira para o lado, puxa o cobertor e dorme).
A.G.
08/08/2013
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